300 túmulos medievais descobertos sob antiga loja inglesa

Uma antiga loja de departamentos escondeu, por décadas, uma cápsula do tempo que agora vem à tona de maneira espetacular. Durante a preparação do novo City Campus da Universidade de Gloucestershire, arqueólogos da Cotswold Archaeology descobriram um verdadeiro mosaico da história inglesa: desde vestígios romanos até esqueletos medievais, passando por as fundações de igrejas esquecidas pelo tempo. É como se Gloucester tivesse decidido, finalmente, contar seus segredos.

Sob o que antes era a loja Debenhams, os arqueólogos desenterraram camadas que remontam ao século II. Fragmentos de cerâmica, fundações de casas geminadas e paralelepípedos sugerem que a área era parte de um movimentado assentamento romano.

Avançando alguns séculos no tempo (sem máquina do tempo, só com muito cuidado e pincéis), surgiram vestígios de uma igreja medieval anterior a 1066 — a época da famosa conquista normanda. Depois dela, o local hospedou a Igreja de St. Aldate, construída no século XVIII e demolida nos anos 1960 para dar lugar ao comércio moderno.

A descoberta de 317 esqueletos — isso mesmo, 317! — deixou claro que o local serviu como importante cemitério por quase 1.000 anos. Cerca de metade dos sepultamentos foi atribuída ao período medieval, possivelmente ligados à igreja anterior à conquista normanda.

Os esqueletos mais recentes, de sepultamentos pós-medievais, estavam associados à Igreja de St. Aldate. Alguns deles foram enterrados em jazigos de tijolos: nada mais prático e sólido para resistir ao tempo.

Aliás, diga-se: Gloucester sabia mesmo como “reciclar”. Parte das pedras da igreja medieval foi reaproveitada para reconstruir outras igrejas da cidade após os estragos brutais da Guerra Civil Inglesa.

Os arqueólogos, agora, estão analisando cientificamente os restos mortais encontrados. Entre as primeiras revelações, uma constatação curiosa e nada surpreendente: o impacto do açúcar na dieta inglesa, introduzido no século XVI, já deixava marcas visíveis na saúde bucal dos falecidos.

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Spoiler científico: escovar os dentes naquela época não era exatamente uma prioridade nacional.

Esses estudos prometem desvendar não apenas questões alimentares, mas também aspectos como doenças, qualidade de vida e até mudanças culturais profundas ao longo de dez séculos. Gloucester vai, literalmente, ganhar um capítulo novo na história da medicina histórica e da arqueologia urbana.

Nas escavações do subsolo, surgiram pistas fascinantes da ocupação romana: muros parcialmente desmontados (as pedras eram preciosas demais para se desperdiçar), superfícies metálicas de pátios, tábuas de madeira preservadas e sistemas de drenagem primitivos.

Esses vestígios ajudam a traçar um quadro vívido de como era a vida em Gloucester quase dois mil anos atrás: uma cidade vibrante, adaptável e em constante transformação.

Parte dos achados arqueológicos, incluindo elementos arquitetônicos como arcos de janela do século XIV, serão expostos no novo City Campus. Alunos, professores e visitantes poderão caminhar literalmente sobre a história, entendendo como o passado e o presente se entrelaçam de maneira poderosa.

Steve Sheldon, gerente da Cotswold Archaeology, resumiu com precisão: “Embora a planta da igreja medieval não tenha sido completamente revelada, as descobertas apontam para uma história muito mais rica e complexa do que imaginávamos.”

E que história! Gloucester acaba de lembrar a todos que, mesmo quando parece esquecida, a memória do passado sempre encontra uma maneira de emergir — nem que seja embaixo de uma loja de departamentos desativada.

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