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120 anos de Érico Veríssimo: exposições, casa-museu, eventos em Porto Alegre e São Paulo, suas obras e legado

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Em dezembro de 2025 o romancista Érico Veríssimo completaria 120 anos. Para celebrar a data, Porto Alegre promove festivais e exposições, a USP exibe manuscritos raros, Cruz Alta restaura a casa natal do autor e o público redescobre clássicos como O Tempo e o Vento e Incidente em Antares. Conheça os detalhes dessas homenagens e relembre a trajetória de um dos maiores escritores brasileiros.

Porto Alegre vive um calendário intenso em homenagem ao escritor. De 7 de outubro a 21 de novembro a Fundação Theatro São Pedro, a Assembleia Legislativa gaúcha e a Unimed/RS realizam o Festival Legado, série de atividades gratuitas ou a preços populares que exploram cinema, música, teatro e literatura.

O evento inicia com a abertura de uma exposição de 25 páginas da adaptação em quadrinhos da trilogia O Tempo e o Vento, desenhada por Eloar Guazzelli Filho e encomendada pela Companhia das Letras. A mostra fica em cartaz no foyer do Multipalco Eva Sopher (Theatro São Pedro, rua Riachuelo 1089) até 2 de novembro, com visitação de terça a sábado das 12h às 19h e domingos das 16h às 18h.

Outra atração do festival ocorre na Casa da Memória Unimed Federação/RS (rua Santa Terezinha 263, Porto Alegre). A partir de 19 de novembro a exposição “Erico – Entre linhas e afetos” propõe um percurso em que literatura e artes visuais se entrelaçam para revelar tanto a obra quanto o universo de relações do autor; a curadoria é de Marco Aurélio Biermann Pinto e José Francisco Alves.

Durante a 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, o Espaço Força e Luz abriga a exposição “Erico”, com curadoria da artista visual Graça Craidy e da escritora Marô Barbieri. A mostra reúne obras de 47 artistas que criaram pinturas, esculturas, gravuras, instalações e colagens inspiradas em personagens como Ana Terra, Bibiana e o capitão Rodrigo.

A exposição se divide em eixos temáticos (primeiros livros, livros de viagem, O Tempo e o Vento, Incidente em Antares, literatura infantil, obras de temática política e direitos humanos). A abertura ocorreu em 1º de novembro às 15h30 e a visitação vai até 20 de dezembro com entrada gratuita; o público pode visitar de segunda a sexta das 10h às 19h e aos sábados das 11h às 18h. O edifício também abriga, no sexto andar, o Memorial Érico Veríssimo, espaço permanente que guarda manuscritos originais e mais de 3 mil itens relacionados ao autor.

A casa onde o autor nasceu em Cruz Alta

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O escritor nasceu em 17 de dezembro de 1905 em Cruz Alta. A residência da família, construída em 1883, tornou‑se a Casa Museu Érico Veríssimo. O museu preserva objetos pessoais, livros, fotografias, rascunhos e obras originais do escritor, além de vídeos sobre sua vida.

O próprio edifício é uma atração: Franklin Verissimo, avô de Érico, comprou a casa uma década após a construção e ela permaneceu na família até 1930. No quintal sobrevive um nespereira que acompanhou as leituras e brincadeiras do adolescente, elemento de nostalgia citado pelos guias.

Em 2025 a casa museu iniciou uma restauração completa para reabrir em 2026 com novos itens no acervo. As obras fazem parte das homenagens pelos 120 anos de nascimento e 50 anos de morte do autor. A prefeitura de Cruz Alta explica que o prédio, tombado como patrimônio histórico, passa por intervenções em telhados, esquadrias e revestimentos, além de adaptação de banheiros e instalação de rampas.

O projeto utiliza técnicas originais do século XIX, como argamassas de cal e barro, para preservar a autenticidade. Durante a restauração o acervo – documentos, fotos e objetos pessoais – foi transferido para o Palácio da Intendência, edifício histórico construído em 1914. A secretaria de cultura articula com a família Verissimo e com o Memorial Érico Verissimo em Porto Alegre para incluir novas fotografias e objetos no museu após a reabertura.

Exposição de manuscritos na USP em São Paulo

Na segunda semana de abril de 2025 a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM), da USP, realizou a Jornada Érico Verissimo. O evento marcou o início das comemorações do 120.º aniversário do autor, com minicursos, mesas‑redondas e exposição de manuscritos do romance Olhai os lírios do campo.

Os minicursos ocorreram nos dias 8 e 9 de abril, das 14h às 16h, e abordaram os romances urbanos das décadas de 1930 e 1940 e os romances políticos dos anos 1960 e 1970. No dia 10 de abril foram realizadas duas mesas‑redondas com pesquisadores do Instituto Moreira Salles, da UFRGS e da USP.

A exposição de manuscritos de Olhai os lírios do campo ficou em cartaz de 7 a 11 de abril na entrada da Sala Villa‑Lobos. Todas as atividades foram gratuitas, abertas à comunidade universitária e ao público em gera.

Clássicos de Érico Veríssimo

Autor de romances, contos, livros infantis, crônicas e memórias, Érico Veríssimo transita entre o registro histórico e o comentário social. Seu projeto mais ambicioso é a trilogia O Tempo e o Vento (O Continente, O Retrato e O Arquipélago), publicada entre 1949 e 1962. A narrativa acompanha a saga da família Terra Cambará por quase dois séculos e traça um painel da formação do Rio Grande do Sul. Outras obras essenciais incluem:

Olhai os lírios do campo (1938) – romance em que o médico Eugênio Fontes enfrenta conflitos entre ambição e ética; a obra questiona a busca por status em detrimento de relações afetivas.

Incidente em Antares (1971) – sátira político‑social ambientada na fictícia Antares; uma greve dos coveiros faz com que sete mortos insepultos revelem as hipocrisias da cidade.

Clarissa (1933) – primeiro romance do autor, acompanha a jovem Clarissa, recém‑chegada a Porto Alegre, em seu processo de autodescoberta e maturidade.

Caminhos Cruzados (1935) – obra coral que entrelaça vidas de diversas classes sociais em Porto Alegre, abordando desigualdade e injustiça.

Música ao Longe (1938) – retrata tensões familiares em Santa Fé; o protagonista luta para se libertar das expectativas impostas pela tradição.

O Senhor Embaixador (1965) – romance político que expõe o autoritarismo latino‑americano através da correspondência entre um diplomata exilado e um militar.

O Prisioneiro (1967) – fábula moderna inspirada na Guerra do Vietnã, critica a violência e o racismo.

As Aventuras do Avião Vermelho (1936) e As Aventuras de Tibicuera (1958) – livros infanto‑juvenis nos quais fantasia e história se misturam, levando crianças a viajar de avião e, respectivamente, a acompanhar um índio que atravessa séculos.

Esses títulos mostram a versatilidade de Veríssimo: do romance histórico de fôlego às narrativas urbanas, da sátira política à literatura infantil.

O legado literário

A carreira de Érico Veríssimo pode ser dividida em três fases. Na primeira, também chamada de ciclo de Porto Alegre, romances como Clarissa, Caminhos Cruzados e Música ao Longe registram a vida urbana e usam a técnica do corte transversal para retratar a sociedade. Embora ambientadas na capital gaúcha, essas obras abordam questões universais e podem ser lidas como retratos de qualquer grande cidade brasileira.

A segunda fase, iniciada com O Tempo e o Vento, marca o amadurecimento estético do autor; ele se consagra como retratista do povo gaúcho e de sua história. A trilogia, adaptada para teatro, televisão e cinema, foi reconhecida pelo próprio escritor como o acontecimento mais importante de sua carreira.

Na terceira fase Veríssimo adota uma postura mais engajada. Obras como O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e Incidente em Antares ampliam o olhar do autor para temas universais, abordando guerra, ditadura e desigualdade. A crítica social se intensifica e o romancista questiona a violência e a intolerância, como se lê na contracapa de O Prisioneiro, em que denuncia a brutalidade de mandar jovens à guerra.

O estilo de Veríssimo é direto e despojado; ele prefere organizar um feixe de destinos humanos a se aprofundar em dramas individuais. Suas narrativas são polifônicas: múltiplas vozes convivem sem hierarquia, capturando um corte da vida social. Essa abordagem sociológica, combinada a um olhar humano sobre personagens de diferentes classes, explica por que sua obra permanece relevante. Ao completar 120 anos de nascimento e 50 anos de morte, Érico Veríssimo segue estimulando debates e inspirando novas gerações de leitores.

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